O Professor Rui Vieira de Castro é Reitor da Universidade do Minho desde 2017 e estará à frente da Academia Minhota até 2025. No ano em que se assinalam os 50 anos da Universidade do Minho, a DTx News esteve à conversa com o Professor para fazer um balanço dos principais momentos dos seus mandatos e falar sobre a estratégia de colaboração entre a academia e o tecido empresarial local e nacional, com foco no papel das entidades do ecossistema de inovação da UMinho, como o DTx.
DTx News: Uma das primeiras questões, neste ano em que se assinalam os 50 anos da Universidade do Minho, é perceber que balanço faz desta trajetória de colaboração tão estreita entre a academia e o tecido empresarial local e nacional, ao longo destas cinco décadas e mais concretamente durante o seu mandato?
PRVC: Faço um balanço muito positivo e temos abundante testemunho do sucesso que foi esse percurso. Aliás, a multiplicação de entidades participadas pela Universidade do Minho, e desde logo os próprios laboratórios colaborativos, exprimem bem isso. Mas o que eu gostaria de dizer é que este percurso que a Universidade vem fazendo, não deixa de corresponder àquilo que era um mandato inicial da Universidade do Minho. E esse mandato era o de contribuir para o desenvolvimento social, económico e cultural da região e do país. Claro que nós podíamos dizer que este objetivo podia ser cumprido se nós nos limitássemos a formar pessoas, se nos limitássemos a desenvolver conhecimento nas diversas áreas em que trabalhávamos e em que fomos trabalhando ao longo do tempo, mas a verdade é que a relação da Universidade com essas outras instituições é essencial. Eu diria que a história da Universidade do Minho não é desarticulável desta ideia inicial e do modo como ela foi sendo interpretada ao longo do tempo. É muito curioso verificar que há uma claríssima linha de continuidade, apesar das diferenças de conceção ou de perfil e modos de entender a função. Invariavelmente, os reitores vêm dizer que a Universidade está inscrita na região, mas é uma Universidade inscrita na região, e não perde isso de vista. A inscrição na região e no país obriga a ter um determinado tipo de relacionamento com entidades externas. Eu não tenho dúvida, absolutamente nenhuma, que a região e o país seriam radicalmente distintos se não tivéssemos a Universidade do Minho e não tivéssemos a Universidade do Minho com esta orientação. O que é que isto significa? Que nós, de alguma forma, depositamos também noutros responsabilidades pela concretização do nosso próprio projeto. São entidades com as quais a Universidade se comprometeu, e se comprometeu muito fortemente, sendo o caso do DTx um excelente exemplo disso. E, claro, que ao comprometer-se também compromete os seus próprios parceiros. E torna presente para esses parceiros que aquilo que nós queremos que seja a atividade da Universidade, também depende, em alguma medida, do trabalho que eles queiram desenvolver. Isto leva a jogos de equilíbrio, que às vezes não são fáceis, porque os objetivos da Universidade não são os objetivos de um museu, de uma unidade local de saúde ou de um setor empresarial. Mas o que nós sempre assumimos era que, apesar dessa diferenciação, haveria ganhos mútuos na conjugação dos nossos esforços, não apenas para as entidades envolvidas, mas sobretudo para a sociedade portuguesa e para os nossos concidadãos.
DTx News: Nesse sentido, considera que a Universidade do Minho tem sido uma incubadora de referência no panorama da ciência, da inovação, formando e capacitando os seus estudantes para os desafios globais atuais, nomeadamente no que se refere ao mercado de trabalho em constante mudança?
PRVC: Eu diria que sim. Nós tivemos sempre preocupações com as questões da transição para o mercado, que é um tema que vem sendo trabalhado praticamente desde sempre. Claro que, em algumas escolas com maior ênfase, em certos cursos com maiores preocupações. Sempre entendemos que deveríamos preparar os nossos estudantes, para eles próprios serem fator de construção da sua própria posição no mercado de trabalho. Por isso, durante muitos anos, a generalidade dos cursos da Universidade do Minho tinha estágios, que eram uma primeira forma de assegurar conhecimento, acesso aos contextos de trabalho, fossem eles no setor privado, público, na educação ou na saúde. Além disso, iniciativas como as bolsas de emprego, a realização de mostras dentro da própria Universidade, a criação de estruturas de apoio ao empreendedorismo e à criação de empresas, tudo isto assenta nessa assunção de um determinado tipo de responsabilidade da Universidade perante aqueles que a vêm procurar para obter formação. Uma das iniciativas que nós temos desenvolvido nestes últimos anos, e que eu julgo que é particularmente interessante, são exercícios de mentoria feitos por pessoas de entidades externas à Universidade e que durante um determinado período acolhem estudantes nossos nas suas estruturas.
DTx News: Todos os anos a Escola de Engenharia promove, um evento/mostra que abre as portas da Universidade às empresas, aproximando-as do ecossistema de inovação (Startups, Interfaces, Centros de Investigação, CoLABs) e dos estudantes, potenciando futuras colaborações. Que balanço faz deste tipo de iniciativas e de que forma é que se podem assumir como um “cartão de visita” da UMinho?
PRVC: Essa é uma marca identitária e que vai sendo reforçada. A quantidade de empresas e de outras entidades que se juntam a estas iniciativas, de alguma forma traduzem um diagnóstico sobre a nossa própria formação. É sempre delicado eu estar a fazer esses exercícios de avaliação sobre a casa que dirijo, mas, acredito que, genericamente, a formação que oferecemos é reconhecida como sendo de grande qualidade. E em todas as áreas, do direito à medicina, passando pelas engenharias, a educação, a psicologia ou a economia. É transversal. Porque de facto eu acho que a formação sempre foi vista como um caso sério para a Universidade do Minho. E temos alguns indicadores que consolidam isto, nomeadamente a forma como os nossos cursos são regularmente avaliados pela Agência Nacional de Avaliação e Acreditação, que nos mostra a procura que os nossos cursos têm. Todos sabemos que a demografia é implacável e já se nota um movimento descendente na procura, pequenos sinais, mas que se vão notando. Mas os resultados que obtivemos, por exemplo, no concurso nacional de acesso deste ano, são muitíssimo reconfortantes, porque preenchemos a quase totalidade das vagas. E, mais importante ainda é perceber que o número de pessoas que se candidatam em primeira opção à Universidade do Minho é muito superior àquilo que são os lugares que nós colocamos a concurso. Portanto, há um reconhecimento efetivo da qualidade da formação e há também depois o reconhecimento por parte dos empregadores, que muito cedo começam a procurar construir pontes com os nossos estudantes.
DTx News: Como já teve oportunidade de referir, a Universidade do Minho é um parceiro muitíssimo forte do DTx. Como é que descreve esta relação de colaboração que tem existido e quais considera ser as principais mais-valias em termos de inovação colaborativa e quais são as suas expectativas em relação ao futuro desta ligação?
PRVC: Eu diria que essa relação entre a Universidade do Minho e o DTx é simbiótica. De facto, a interpenetração de DTx-Universidade é muito elevada e é assim desde a sua génese. Eu julgo que o Professor António Cunha teve uma visão muito ajustada daquilo que podiam ser este tipo de projetos no panorama do sistema científico e tecnológico nacional, da sua relevância para assegurar condições de articulação entre entidades que são produtoras de conhecimento e entidades que são apropriadoras desse mesmo conhecimento, da garantia de desenvolvimento dos elementos do país e da região. Foi esse histórico de relações que nós tínhamos com outras entidades e o capital de confiança que era depositado na Universidade do Minho por essas entidades, que permitiu, primeiro, que o CoLAB fosse constituído da forma que foi, com as entidades de grande relevância que integraram e que se desenvolvesse da forma que tem desenvolvido. E isto é mais uma materialização daquela ideia da Universidade que atrás referi. Temos um carinho especial por este laboratório colaborativo, dado o papel que tivemos na sua génese e por estar em instalações da Universidade. Há uma grande proximidade das pessoas que estão envolvidas ou o número de quadros do DTx que foram formados na própria Universidade. Tudo isto nos deixa, obviamente, orgulhosos. Orgulhosos também por verificarmos que fomos capazes de corresponder ao desafio que era colocado pela introdução desta nova figura no nosso sistema científico e tecnológico. E julgo que a constituição do DTx como uma plataforma para a qual convergem várias entidades, interesses e objetivos, e o sucesso dessa plataforma é, mais uma vez, o sucesso da ideia de Universidade que nós perfilhamos. Desse ponto de vista, aquilo que nós continuaremos a fazer e estamos a fazer é um envolvimento ativo na atividade do DTx.
DTx News: Para terminar, que mensagem gostaria de deixar às entidades que constituem o ecossistema de inovação da UMinho, em especial ao DTx e aos seus Associados?
PRVC: Nós temos práticas de relação muito densas, muito intensas. Conhecemos bem as entidades e elas conhecem-nos bem a nós, pelo que construímos relações estáveis e de confiança, o que não significa que não haja divergências. Há sempre um exercício de conversação e de negociação que é preciso ter. Aquilo que eu gostava de dizer aos nossos parceiros é que, da parte da Universidade, até por um princípio de fidelidade àquilo que é a nossa matriz e que é a nossa história, continuará a haver um forte empenho em iniciativas desta natureza, em projetos desta natureza, em estruturas desta natureza. E fazemo-lo, uma vez mais, em nome daquilo que entendemos ser o nosso papel de promotores do desenvolvimento, fazemo-lo em nome também da responsabilidade que muitos depositam em nós, quando, por exemplo, colocam os seus filhos ou os seus familiares a fazer a formação na Universidade do Minho. Quando falamos da Universidade do Minho, costumamos falar de um universo que está muito para lá daquilo que é fisicamente o espaço da Universidade, ou do que são exclusivamente iniciativas de educação ou iniciativas de investigação. Na verdade, nós achamos que o nosso contributo requer esta contínua interação, traduzida depois obviamente em projetos, envolvendo todas as entidades que nos rodeiam. No caso do DTx, isto ganha especial relevância no setor empresarial e depois em certas áreas dos setores empresariais. Mas também é interessante verificar como o DTx, tendo o foco que tem, foi capaz de construir uma rede de relações muito plural, muito diversa. Portanto, eu diria que o nosso futuro não vai passar senão pelo reforço deste tipo de colaborações, porque percebemos já que o tipo de desafios com que as nossas sociedades estão confrontadas, obterão uma resposta tanto melhor quanto mais nós formos capazes de encontrar lugares de convergência. E o DTx é um excelente lugar de convergência entre a Universidade, os setores de investigação e inovação da universidade e entidades empresariais, também elas fortemente comprometidas com o desenvolvimento económico e social.
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